Diálogo Econômico: Presidente de uma das maiores empresas de massas do Brasil, Ivens Dias Branco Júnior comentou sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus e as estratégias de crescimento da empresa para os próximos anos
Após o aumento da demanda e o consequente impulso na produção de alimentos provocados pela pandemia da Covid-19, o setor deve passar por uma “normalização” em 2021 a partir do maior controle da crise sanitária. É o que projeta Ivens Dias Branco Júnior, presidente da M. Dias Branco, empresa cearense de massas e biscoitos com capital aberto na B3.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, no Diálogo Econômico, Ivens pondera que a vacinação “de toda a população brasileira” precisa ser um dos focos para solucionar a crise.
O executivo reforça a importância da governança na gestão da empresa para garantir bons resultados antes e durante o processo de abertura de capital.
Na entrevista, enaltece os resultados na Bolsa brasileira, ressaltando que os papéis da M. Dias Branco já se valorizaram mais de 430% desde a oferta inicial das ações.
Em meio aos bons números, a M. Dias Branco segue focada em estratégias de inovação, aliando conceitos de tecnologia relacionados à Indústria 4.0 e iniciativas de crescimento orgânico da companhia.
No ano passado, a empresa registrou um aumento de 37,2% no lucro líquido em relação a 2019, atingindo o patamar de R$ 763,8 milhões. O resultado gerou uma distribuição de lucros e dividendos aos acionistas 81,8% maior do que em 2019, com um total de R$ 154,5 milhões.
Atualmente, segundo o último balanço financeiro da empresa, a M. Dias Branco responde por um terço do mercado nacional de biscoitos e massas (32,6%), segundo balanço do primeiro trimestre de 2021.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA:
COMO O SENHOR AVALIA O CENÁRIO ECONÔMICO NACIONAL DURANTE A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS? AS DECISÕES TÊM DE ALGUMA FORMA AFETADO AS ATIVIDADES DA M. DIAS BRANCO?
A pandemia, sobretudo nos primeiros meses, proporcionou uma elevada demanda no setor alimentício, ocasionada pelo aumento no consumo e pela maior permanência das pessoas em casa.
Na M. Dias Branco notamos o aumento da demanda em boa parte de nosso portfólio, principalmente em massas e biscoitos, como cream cracker, Maria, Maisena, massas longas e, sobretudo, macarrão instantâneo, pois as mesmas oferecem praticidade e bom custo-benefício, ou seja, são consumidos por toda a família dentro de casa.
Ao mesmo tempo, as pessoas em casa buscavam por indulgência, um agrado durante um período desafiador, buscando por biscoitos mais sofisticados, tais como recheados, cookies, wafers e cobertos.
“O auxílio emergencial, certamente, estimulou o consumo no varejo como um todo. Houve também a euforia, no primeiro momento, pelo risco de um possível desabastecimento. Estes fatores, sem dúvidas, aumentaram o consumo.”
Neste contexto, a M. Dias Branco utilizou sua experiência adquirida em quase 70 anos de história para traçar estratégias sólidas, fortalecendo o caixa e reforçando-o a partir de uma política comercial pautada também na ampliação das exportações.
QUAIS SOLUÇÕES E PONTOS SERIAM MAIS IMPORTANTES NESTE MOMENTO PARA QUE A ECONOMIA NACIONAL PUDESSE CAMINHAR DE FORMA MAIS SEGURA PARA A RECUPERAÇÃO?
Para a recuperação da economia, atingindo todos os setores, é fundamental a vacinação de toda a população brasileira. Enquanto isso não ocorre, as medidas de proteção são fundamentais.
Aqui na M. Dias Branco, desde o início da pandemia, em março de 2020, nossos esforços estiveram, sobretudo, no cuidado com os colaboradores e seus familiares e na garantia de abastecimento de alimentos à população brasileira, uma vez que produzimos artigos básicos, como farinha de trigo, massas, biscoitos margarinas e torradas, que são essenciais para as pessoas.
Por isso, a produção industrial na M. Dias Branco não parou, pelo contrário, precisou ser intensificada.
A Companhia teve que reagir rapidamente, com inúmeras transformações em todas as áreas, com novos desafios e mudanças a cada momento, à medida que a pandemia avançava.
Somos uma empresa com um grande número de colaboradores, com unidades espalhadas por quase todo o país, e organizar tudo isso com eficiência e agilidade não foi fácil. Cada pequeno ajuste, quando contemplado nessa escala, se tornou um projeto gigantesco.
Para organizar e coordenar este trabalho, desde que a M. Dias Branco soube que a pandemia de Covid-19 poderia chegar ao Brasil, foi criado um comitê de crise para definir medidas de prevenção em todas as suas unidades industriais, em todos os escritórios comerciais e nas áreas em que a companhia atua.
Dessa forma, conseguimos manter a saúde dos nossos colaboradores e a entrega dos produtos de maneira qualificada e ágil em todo o território nacional.
Além do cuidado individual e das empresas focadas na saúde de seus colaboradores, do ponto de vista econômico, medidas como o auxílio emergencial fazem a diferença na mitigação do impacto negativo na renda das famílias.
QUAL A AVALIAÇÃO SOBRE O CENÁRIO CAMBIAL NO BRASIL EM RELAÇÃO AO DÓLAR? A DESVALORIZAÇÃO TEM PREJUDICADO A OPERAÇÃO DA EMPRESA?
A desvalorização do real frente ao dólar impacta a economia como um todo, incluindo os resultados da M. Dias Branco, que possui grande parte de seus custos cotados em dólar.
A M. DIAS BRANCO É UMA DAS EMPRESAS CEARENSES NA B3, MAS A PANDEMIA TROUXE REFLEXOS MUITO NEGATIVOS PARA O MERCADO NO BRASIL. O SENHOR ACREDITA QUE ISSO PODE TER IMPACTOS NO MERCADO E ADIAR PLANOS DE OUTRAS EMPRESAS CEARENSES PARA ABRIR CAPITAL?
Abrir capital neste momento pode representar um contexto difícil no curto prazo, mas vemos muitas empresas abrindo capital e acessando o mercado, focadas no longo prazo e na recuperação da economia.
SOBRE O PROCESSO DE ABERTURA DE CAPITAL, O SENHOR, OLHANDO PARA TRÁS, CONSIDERA QUE A EMPRESA ATINGIU O PATAMAR DESEJADO? QUAIS OS PRÓXIMOS PLANOS REFERENTES AO MERCADO (NOVOS INVESTIMENTOS, EXPANSÕES)?
Com toda a certeza! Estamos muito satisfeitos com os nossos resultados. Desde a abertura de capital, em outubro de 2006, a ação da M. Dias Branco valorizou 433%.
A boa performance é resultado de um planejamento estratégico seguido à risca, orientado para o crescimento e alinhado às políticas de governança corporativa da Companhia.
Além disso, ao longo da história, tivemos muita resiliência e comprometimento com os nossos colaboradores, fornecedores, clientes e consumidores, que são os públicos fundamentais para o nosso negócio.
Com relação aos planos referentes ao mercado, nossa expansão deve ocorrer por meio de crescimento orgânico e/ou de aquisições de outras empresas, analisando oportunidades que agreguem valor ao nosso negócio, sempre tendo comprometimento com os mais elevados padrões de desenvolvimento sustentável, gestão empresarial e governança corporativa.
Temos foco ainda no desenvolvimento de novas formas de alcançar crescimento, com melhoria da produtividade, satisfação do cliente e do consumidor.
A M. DIAS BRANCO TEM BUSCADO UMA MAIOR INTERAÇÃO COM STARTUPS NO MERCADO BRASILEIRO PARA AVANÇAR NO MUNDO DA INDÚSTRIA 4.0. COMO TEM SE DADO ESSE PROCESSO NA EMPRESA? QUAL A IMPORTÂNCIA DAS STARTUPS, NA AVALIAÇÃO DO SENHOR, PARA O DESENVOLVIMENTO DO MERCADO NACIONAL?
Quando se fala em indústria 4.0, e o futuro da tecnologia aplicada em processos produtivos, é fundamental deixar claro que estamos falando do presente. Essa realidade é deparada por estruturas fabris de diversos segmentos, inclusive na M. Dias Branco.
Na Companhia, estamos controlando os ativos com inteligência artificial. Nós monitoramos os equipamentos para as manutenções preditivas, utilizando a inteligência, entre outros processos.
“A inovação, inclusive, é um diferencial para a competitividade das indústrias. Um meio eficiente de acelerar o processo é a conexão com startups, iniciativa tomada pela M. Dias Branco desde 2018 a partir do Programa Germinar. O programa já está indo para a quarta edição, apresentada recentemente.”
A M. Dias Branco investe em parcerias e mentoria para impulsionar o crescimento das chamadas foodtechs. Uma das empresas escolhidas na primeira rodada do Programa Germinar, em 2018, foi a Mandala Comidas Especiais, que se especializou na produção de alimentos congelados sem glúten, sem lactose ou outros ingredientes que podem causar reações em pessoas alérgicas, intolerantes alimentares e celíacos.
A inovação no processo é tamanha que, graças ao investimento da M. Dias Branco, a Mandala criou refeições instantâneas liofilizadas, que não precisam de congelamento e podem ser levadas para qualquer lugar.
A técnica é a mesma utilizada pela Agência Espacial Americana (Nasa) na alimentação dos astronautas e permite a retirada da água dos alimentos, de forma que podem ser conservados por muito tempo, sem necessidade de refrigeração e mantendo a integridade dos mesmos. Assim, os alimentos são distribuídos de maneira fácil e econômica para todo o Brasil.
APESAR DA PANDEMIA, O SETOR DE ALIMENTOS CONSEGUIU APRESENTAR BONS RESULTADOS DURANTE O ANO PASSADO. CONSIDERANDO O CENÁRIO ATUAL NO PAÍS, E COM OS IMPACTOS NA ECONOMIA, O SENHOR ACREDITA QUE O SETOR PODE ESPERAR BONS RESULTADOS TAMBÉM NESTE ANO?
O setor de alimentos é resiliente. No ano passado, principalmente nos segundo e terceiro trimestres, houve aumento na demanda pelo fato de as pessoas estarem mais em casa e devido ao auxílio emergencial, como comentamos anteriormente. Acreditamos em uma normalização do setor ao longo dos próximos meses.
A M. DIAS BRANCO É, HOJE, UMAS DAS MAIORES EMPRESAS DO ESTADO DO CEARÁ, MAS, PARA AS EMPRESAS QUE ESTÃO COMEÇANDO AGORA, QUE TIPOS DE CONHECIMENTO O SENHOR AVALIA COMO CRUCIAIS PARA CONSEGUIR BONS DESEMPENHOS?
É fundamental ter foco, estratégia de longo prazo, disciplina, dedicação, uma equipe de profissionais preparada e produtos de qualidade, que atendam às necessidades e, se possível, possam superar as expectativas dos clientes e as carências do mercado.
COM RELAÇÃO ÀS OUTRAS EMPRESAS CEARENSES COM ABERTURA DE CAPITAL EM BOLSA, COMO O SENHOR AVALIA A EVOLUÇÃO DO MERCADO LOCAL A PARTIR DO CRESCIMENTO DESSAS EMPRESAS? HOJE O CEARÁ CONTA COM A ARCO EDUCAÇÃO, PAGUE MENOS, M. DIAS BRANCO, AERIS, DENTRE OUTRAS COM AÇÕES NA BOLSA.
São empresas de setores diferentes. Para nós, é motivo de orgulho e satisfação ser exemplo para outras empresas do Ceará, que abriram o capital recentemente ou pensam em abrir capital.
SENDO UMA EMPRESA FAMILIAR, COMO FOI O PROCESSO DA M. DIAS BRANCO EM LIDAR COM A GOVERNANÇA ANTES DE ABRIR CAPITAL? QUAL A IMPORTÂNCIA DE TER ESSE CRITÉRIO FORTALECIDO PARA O MERCADO NACIONAL DE INVESTIDORES?
A M. Dias Branco sempre foi uma empresa muito organizada. A governança é fundamental para transmitir segurança aos investidores.
A companhia está listada no segmento Novo Mercado da B3 desde 2006, enquadrando-se desde o princípio às exigências de mercado e fomos aprimorando o processo. O Conselho de Administração conta com 50% de membros independentes e, desde 2014, os cargos de Diretor Presidente e Presidente do Conselho de Administração são ocupados por pessoas distintas.
Além disso, adotamos um indicador interno que denominamos iMDB – Índice M. Dias Branco de Governança Corporativa para acompanhamento da performance. Semanalmente ainda, eu, como presidente, me reúno com nossos vice-presidentes e diretores para a deliberação dos assuntos mais importantes.
“Enxergamos que a transparência é fundamental em todos os processos de uma empresa, sobretudo as de capital aberto, que precisam fornecer ao mercado informações claras, tempestivas e transparentes, assim como a M. Dias Branco faz. Além disso, é essencial que o relacionamento das empresas com órgãos governamentais, agências reguladoras e qualquer outro tipo de representação do poder público seja pautado pela ética, respeito e transparência.”
Na elaboração e divulgação de nossas demonstrações financeiras, bem como de qualquer outro comunicado oficial, utilizamos os princípios aceitos na contabilidade brasileira e internacional. Somos conscientes da importância da exatidão de nossos números, já que representam a base para análises e decisões estratégicas que afetam o futuro da Companhia. Dessa forma, todas as partes são beneficiadas pelo relacionamento honesto e transparente.
“Há quatro anos consecutivos, a M. Dias Branco recebe o Troféu Transparência Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), conhecido como o Oscar da Contabilidade. O prêmio reforça a conduta ética e transparente das empresas.”
Outro fato que corrobora com a qualidade da governança da M. Dias Branco é que a Companhia passou a compor a carteira do ISE, que reúne ações de companhias que atendem a requisitos relacionados à sustentabilidade corporativa, como eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. Logo depois, em janeiro, a Companhia foi selecionada para o Índice Carbono Eficiente da B3 (ICO2 B3).
Em março deste ano, realizamos a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), sendo um dos primeiros do País a receber o Título Verde, com o compromisso da Companhia de exigir e apoiar fornecedores em sua governança para a sustentabilidade. Todas essas conquistas são resultado de anos de trabalho e estamos cientes de que, a cada dia, devemos elevar nossas metas.
MUITOS EMPRESÁRIOS TÊM DISCUTIDO A IMPORTÂNCIA DAS REFORMAS ESTRUTURAIS NO BRASIL. O SENHOR CORROBORA COM ESSE PLEITO? E AS REFORMAS JÁ APRESENTADAS SERIAM FAVORÁVEIS AO AMBIENTE DE NEGÓCIOS NO BRASIL?
Sem dúvidas, as reformas gerariam simplificação em todo o ambiente de negócios no Brasil, portanto, seriam positivas para a economia como um todo.
A PANDEMIA TROUXE MUITAS MUDANÇAS PARA MODELO DE TRABALHO NA M. DIAS BRANCO OU REGIME DE PRODUÇÃO?
Ao longo da pandemia, os esforços estiveram no cuidado com os nossos colaboradores e seus familiares e na garantia de abastecimento de alimentos à população brasileira. Os produtos de todas as marcas tiveram a produção industrial intensificada. Foi necessária a reação rápida em todas as áreas para atendimento dos protocolos de higiene e segurança exigidos pelos órgãos de saúde.
“A M. Dias Branco criou ainda um comitê de crise para definir medidas de prevenção em todas as suas unidades industriais, em todos os escritórios comerciais, Centros de Distribuição e nas áreas em que a companhia atua.”
A Companhia intensificou também as doações de alimentos em todo o país, uma vez que foi necessário olhar com muita sensibilidade para a população durante a pandemia da Covid-19. Somente entre janeiro e maio de 2021, foram doadas 3.110 toneladas de alimentos, o equivalente a R$ 18 milhões.
As doações para entidades sociais desde o ano passado já somam R$ 35 milhões ou 6.300 toneladas de alimentos. Os alimentos beneficiam cerca de 150 instituições cadastradas de 17 estados brasileiros, reconhecidas pelo seu trabalho relevante com populações carentes.
“Foi necessário ter empatia e sensibilidade com a nova realidade das pessoas e nosso foco foi em fortalecer nossa relação a partir de campanhas de incentivo e cuidado com a pandemia. No início da pandemia, até o mês de maio de 2020, realizamos o projeto “Você Doa. A Gente Doa”, referente à doação de sangue, assinado por cinco de nossas marcas (Fortaleza, Vitarella, Piraquê, Adria e Isabela).”
Para isso, a M. Dias Branco destinou R$ 2,4 milhões para apoiar hemocentros, ajudar nas pesquisas em hematologia para o tratamento de pacientes de Covid-19 e estimular a doação de sangue, respeitando as normas sanitárias e garantindo a segurança dos doadores.
Para cada bolsa de sangue arrecadada, foram destinados 500 produtos de suas marcas a entidades de apoio social nos respectivos estados. A companhia mobilizou também as plataformas de mídias sociais de suas principais marcas para engajar e conscientizar sobre a importância das doações de sangue durante o período da campanha.
Além disso, durante o período, a companhia doou ainda outros R$ 2,6 milhões em massas e biscoitos para dezenas de entidades carentes em todo o País, totalizando R$ 5 milhões em recursos financeiros para apoio à comunidade, sendo uma das 100 maiores empresas doadoras do país, atingindo a 69ª posição em ranking, publicado pela Forbes.
Conteúdo elaborado por Diário do Nordeste